quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

O liberto




Meditando ao seu carinho 

Cuidado no sentir

Transcender o passarinho 

E voar antes da asa nascer

Crer no tempo em seu olhar 

Mergulhar no que vier

Ser amor pra valer o ninho

Dar calor pra não arrefecer 

Deixar ser livre e desenhar caminho

Deixar o abraço se a vida doer

Estar contigo até o finalzinho 

Depois de tudo te agradecer 

Eu sou melhor por ter você comigo 

Te ensino o sonho, você o bem querer…

sábado, 3 de setembro de 2022

Escafandrista

Gosto das águas profundas

amores rasos não me convencem

sou desta gente vagabunda

que nega a história dos que 'vencem'

sou artista, alquimista de sonhos

do rebanho resistente das funduras

escultor de ideias tortas

projetando outras figuras

perseguidor de utopias 

esquecidas pela rua, 

sou quem amola o Mola-Mola

até virar um peixe-lua

Como bom escafandrista

não me nego à procura

a viagem sem destino

pra encontrar outras culturas

Sou o cego a beira mar

reescrevendo a paisagem

imaginando o impossível

pelo simples prazer de imaginar



sexta-feira, 4 de março de 2022

Esperança


Eu queria dizer que não importa minha inabilidade de encanador e o odor da massa plástica exagerada na pia mal posta, mas tá ali, um pouco de mim escorrendo com o tempo que intuitivamente eu sempre achei que fosse pouco. Ainda que não seja, ainda que venha a ser só impressão ou fixação por aquele poema do Valmir, você cuidando do meu sopro no coração, eu sem saber dirigir, enxergando cada vez menos e você se esquecendo do quanto eu te amo minha vênus...

Enfim, eu só queria falar dos sonhos, dos anos, mas esqueci da vírgula e minha ansiedade não se cansa de escorrer com o tempo entre os dedos, e meus medos e os maus hábitos vão sempre me lembrando do quanto eu poderia ser mais e não posso, antes fosse o Takayasso uma couraça de aço, mas é poço e eu não sou dócil e se não bastasse a instabilidade de tudo continuo sempre buscando mudar o mundo sem nem saber arrumar a pia. E fico pensando em quem admiro e não consigo deixar claro, sem parecer caipira, aí eu piro e não reparo no boleto atrasado e viajo noutro projeto incompleto e o tempo escasso e a goteira do teto em outro canto...

Ahh deixa isso pra lá. Será que vai dar tempo de ensinar a pequena a andar de bicicleta? Será que o mais novo vai jogar futebol? E o mais velho estará tocando baixo ou desenhando? PARA PORRA!!! Era pra ser um poema de esperança e eu já mudei de foco de novo, que zona! Deve ser a cortisona e essa angústia revestida de inspiração no belo filme espanhol que vimos hoje, escrevi tudo isso só pra dizer que quero passar a vida toda do seu lado, enroscado no seu pé na hora de dormir, achando o nosso encaixe nesse mundo cheio de ódio e desejo de mudança, desculpa era pra ser um poema de esperança, mas não consigo esperar, sigo correndo contra o tempo e você respirando como o mar...

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Pintura

Com a tinta de mainha
painho pintou a minha pele
numa cor muito bonita
um tanto mais escura que a dele
Com as mãos de painho
mainha fez brotar música nos nossos caminho
e desde então nossas almas nunca mais se entristeceram
E foi a garra de vóinha que inspirou
tanto mainha como painho a
serem criativos nos dias de escassez
e desde então ninguém mais fez
promessa contra a fome
com as luz dos zói das minhas cria
eu iluminei a estrada
e trilhei um rumo de alegria
onde eu nunca estivesse sozinho
com o amor da companheira
fortaleci a envergadura
e desarmei a armadura
pra aninhar os passarinho
E com as asas do coração
eu voei baixinho
entre os espinho de roseira
e o algodão dos teus carinho
hoje eu sei que
o mundo é bem pequeno
quando nois tudo tamo perto,
assim bem juntinho....
Não há distância pro abraço
nem palavra sem padrinho!

Mundo

Rái carregava o mundo em seu nome
e carregava em sua matula muitas tantas histórias para além da fome.
Certo dia caiu feito um rái na vida de Damiana
e o mundo despencou num chovaréu sem fim.
A secura dos dias de Rái só careciam do amor de uma dama.
Damiana dos Jasmins.

Raimundo tinha mesmo um olhar profundo, de quem carrega a sua terra na pupila.
E não há quem não perceba tudo que ele diz mesmo antes de abrir a boca.

Ruminava as horas entre os dentes e não marcava toca,
Rái não era de dar trela pra pensamento imundo de gente mundana.

Em cada rama da arruda de sua mãe um movimento novo se fazia.
Raimundo dando voltas, arrudeando todo mundo!

Asase yaa

Seu corpo é uma ocupação [Asase yaa]
pachamama em lona e madeirite
acredite, seu corpo é favela
cada pelo, cada marca, cada vala...
o seu corpo é o céu e é o chão.
Toda chaga onde a maldade resvala
Você é a bala perdida e encontrada
alojada nas brenhas do pulmão
córrego a seu aberto
é seu ventre machucado
ponto de ônibus lotado teu coração
onde se amontoam homens, filhos e cães clamando atencão
em seu ori as confusões de todo dia
entrelaçam-se as vontades ocas da periferia
Seu corpo, todos sabem é quebrada profunda
biqueira, bocada, peito e bunda
aleita e alucina
sóca e ensina
suas vielas muitos tem medo de adentrar
somente os de sola grossa sabem como pisar
amo cada barraco dos teus olhos
e me equilibro em cada fio dos teus cabelos
Com o tempo aprende-se a respeitar
até mesmo os seus dejetos
nos becos dos seus braços
toda esquina se dobra
em cada dobra eu me curvo
e turvo a mira na direção do seu colo
na palma de cada rua o destino nas mãos
beijo e berro na lama de sua inundação
lágrima seca na sarjeta dos teus lábios
indica o caminho dos sábios na ponta da sua língua
onde ginga a gíria sob os escombros da colonização
elos são pontes sobre os teus joelhos rezando pro deus dos devastados
resistindo em sua alma sobram apenas
os sem terra
no meio da guerra seu corpo é cortiço seguro
E eu um favelado admirando
o sangue e o suor escorrendo
na pele áspera do teu muro

Mors